Vivência de perdas e luto no adoecer
Vivência de perdas é uma categoria, uma construção teórica, de um fenômeno observado no decorrer do atendimento psicológico, oferta da escuta, aos pacientes internados:
Era frequente a narrativa de lembranças de pessoas conhecidas e familiares que estiveram doentes ou faleceram, assim como outros acontecimentos, mudança de cidade, separação conjugal, que implicam em perdas, como antecedentes a internação, o agravamento ou primeira manifestação da doença.
Seguindo a estrutura do estresse que consiste em: estressor, efeitos subjetivos deste e reações psicológicas decorrentes, que, geram alterações fisiológicas no organismo, foi criada a categoria vivência de perdas.
Esta construção teórica abrange três âmbitos da conduta humana: ambiente – mente – corpo, que coexistem podendo haver predomínio de um deles. (Bleger,1984)
Freud (1930,p.103) também destaca que “não se pode deixar de penetrar nas relações existentes entre os três processos: de civilização, desenvolvimento do individuo e o segredo da vida orgânica em geral”.
Entende-se que o adoecer não pode ser abordado, estudado e avaliado apenas do ponto de vista organicista, como e tratada a doença. Mesmo com os avanços da medicina, muitos processos entre reações psicológicas e efeitos no organismo são desconhecidos.
Vivência de perdas e luto e um ponto a ser abordado no processo do adoecer. Trata-se de processo psicodinâmico, que tem inicio com a ocorrência de evento(s) significativo(s), que afetam a subjetividade em sua carência, sendo necessário o luto. Durante um luto, aspecto psíquico, equivalente a situação de estresse, é quando são manifestas reações psíquicas como raiva, angústia, desamparo, tristeza. Decorrente destas reações são produzidas substâncias, hormônios e outras que levam a alterações fisiológicas do organismo. Este processo pode levar ao adoecer, a manifestação de doenças como a doença arterial coronariana, sendo fator predisponente ao adoecer em conjunto com outros fatores de risco.
Considera-se tanto a doença crônica como a internação, eventos significativos do curso da vida, disparadores de vivencia de perdas e luto, por caracterizar-se como ruptura com o cotidiano e necessidade de adaptação a uma nova condição de vida, sendo equivalente a uma crise psicossocial ou situação de estresse.
Pereira e Haddad (2002), também constataram que para 22 pacientes a doença se manifestou na época em que ocorrera perda de pessoas afetivamente significativas, por morte, doença ou ruptura de relacionamento.
De uma primeira pesquisa realizada com 22 pacientes internados para se submeterem a cirurgia cardíaca, todos estavam atravessando uma vivência de perdas com dificuldades para realizar um luto. Os eventos significativos citados com maior frequência foram: morte de familiares (55), portanto um mesmo paciente fez referência a morte de mais de um familiar. Separação de familiares (10), doença na família (7), acidente com familiar (4), perda na situação de trabalho (3), prejuízo financeiro (3).
A ocorrência de evento significativo, desencadeante de vivencia de perdas e luto, pode ser indicador da necessidade de avaliação psicológica.
VIVÊNCIA DE PERDAS E LUTO
Evento ambiente
Evento significativo – afeta a realidade psíquica
Luto – stresse
Reações psicológicas – ansiedade raiva depressão
Alterações fisiológicas
Adoecer